Enxergando além

Minhas tatuagens, feitas no dia 5 de abril de 2008

Galera, seguinte: voltei a fazer teatro hoje (!) e, agora, com teatro e trabalho, fica mais difícil escrever por aqui… Mas vou tentar manter as coisas como estão, talvez dando uma resumida nos posts. Como vocês já devem ter reparado também, estamos com um dia de atraso. Juro que compensarei esse atraso o mais rápido possível.

"Operação tartaruga" causou problemas ao trânsito no centro de JF

Consigo falar rapidamente da minha experiência fora do gueto essa semana porque já a discuti exaustiva e efusivamente com meus amigos no barzinho, e eles me convenceram que pode ser que a pessoa a qual me referirei pode ter exagerado. O fato é que, como todos os juizforanos que andam de ônibus, fiquei dois dias com tempo de sobra para papear com os passageiros. Para quem não é daqui, os motoristas e cobradores entraram em greve, adivinhem, pedindo reajuste salarial (leia aumento da passagem), e fizeram a chamada operação tartaruga, que, adivinhem, deixava o tráfego beeeem mais lento. (foda-se se você trabalha ou tem horário para chegar em algum lugar)

Num dos dias, após ver uma senhora de idade com muleta descer do ônibus no meio da avenida movimentada porque o calor e a demora estavam insuportáveis, me questionei sobre a justiça dessa greve que afeta pessoas que não podem fazer muita coisa pelo reajuste salarial dos grevistas. Ao conversar com uma trocadora, descobri (ou pelo menos assim ela me contou) que o salário dela, naquele mês, tinha sido de R$160. Isso mesmo, CENTO E SESSENTA REAIS. Isso para oito horas por dia, seis dias por semana. Ela vendeu parte da cesta básica concedida pela empresa para pagar as contas daquele mês.

Ok, ela pode ter simplesmente mentido. Mas pra quê? E quem sou eu para falar que ela mentia? Não só eu, como todos os outros passageiros que ouviram o absurdo, ficamos indignados, dissemos que ela ganharia mais em qualquer outra coisa, até como diarista, e ela nos respondeu que só não saía dali porque precisava de emprego para sustentar seu filho e não sabia trabalhar como doméstica (novamente, procuremos não julgá-la). Mas como alguém trabalha por menos que um salário mínimo? É inconstitucional.

Cobradores de ônibus receberiam pouco mais de R$2 por hora de trabalho

Segundo nossa personagem, eles pagam o salário por hora, e, com o recente aumento (pasmem) que eles tiveram, estão recebendo R$2,20/h (isso bruto, sem levar os descontos em consideração). Entenda bem, posso estar falando besteira, mas o mês comercial tem 30 dias, com 8 horas de trabalho cada (contando as folgas pagas), ou seja, tem 240 horas. O salário mínimo é R$510, que divididos pelas horas que são trabalhadas, resultaria no valor de R$2,13/h (que, se nos lembrarmos de Vargas, deveria ser suficiente para saúde, educação, alimentação, lazer, etc). Ou seja, continua sendo absurdo, mas é mais plausível do que parece.

Ônibus da Viação Santa Luzia, uma das empresas cujos funcionários entraram em greve

Sendo mentira ou verdade, essa história me impressionou. Não dou razão à greve da forma como ela foi feita, sabemos que há muito mais envolvido. Mas, no nosso estresse, às vezes aquelas pessoas ficam mais invisíveis do que elas já são diante de tudo o que acarreta uma atitude radical como essa. Sempre exercitando, tentei enxergá-los. E não gostei do que vi.

Por ora fica assim!

3 Comentários

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3 Respostas para “Enxergando além

  1. Nossa…sem palavras.
    Pode ser verdade ou mentira, como você disse, mas não imagino alguém “sobrevivendo” com R$ 160. Nem morar consegue…

  2. Participei da extensa discussão sobre o salário dos cobradores. Não consegui perguntar, me esqueci. Mas realmente acho muito improvável eles ganharem apenas isso.

    De qq forma, se for verdade, concordo com tudo o que vc falou e realmente acho absurdo, impressionante e de extrema injustiça.

  3. Max

    carambaaaa R$ 160 ? chocadoooo!
    akii o saláriio é altoo comparado a esse aeee! e as greves daki são por comodismo e por pirraça!

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