A nossa cruz

Anton Tchékhov

Mais uma vez, estou aqui para divagar com os monólogos de um ator desesperado. Hoje vou propor uma metarreflexão da arte teatral através de uma personagem muito interessante do autor russo Anton Tchékhov.

Inspiração: Vidov, de “O canto do cisne” | Anton Tchékhov. O protagonista é um ator que, no fim da carreira, bêbado, é esquecido pelos companheiros e dorme no teatro, onde se reencontra com grandes personagens que interpretou.

Há em nós, atores, algo que nos inquieta. O que mais me atrai é a possibilidade de dar vida a diversos tipos de seres (vivos ou não). Podemos, através de nossa arte, expulsar os demônios que ficam escondidos, ocultos em nosso subconsciente.

Álvaro Dyogo interpretou o playboy Junior em "Voto vendido é voto traído", de José Luiz Ribeiro

E, a cada vez que se vive uma personagem, ela deixa uma marca. Você, na arte de atuar, se confrontará com seus maiores defeitos, seus maiores medos, suas maiores repulsas, seus maiores preconceitos. E terá de enfrentá-los. Você os destruirá para se entregar a eles na composição de vidas tão iguais ou tão diferentes da sua vida. É mesmo mágico.

Se não pelo prazer de exercitar o conhecimento profundo de tudo o que te assusta de alguma maneira, atuar vale à pena pela imersão no outro. Talvez não seja o bastante para que alguns se aventurem na arte teatral. Talvez esses alguns simplesmente não sejam vocacionados para esta arte. Para esses alguns, talvez, valha à pena embarcar nesse universo da poltrona do espectador. Uma peça bem feita irá, no mínimo, despertar algumas emoções interessantes.

Só para finalizar, atribui-se a Tchékhov uma frase que eu aprecio muito, e que compartilho agora com vocês: “O teatro não é a fama, a glória com que sonhei. O teatro é perseverar. É carregar a cruz. É ter fé. Quando eu penso na minha vocação, eu não tenho medo da vida.”

Por ora fica assim!

2 Comentários

Arquivado em Reflexão

2 Respostas para “A nossa cruz

  1. Bela frase de Tchékhov. E demasiadamente interessante este seu texto. Boa reflexão!

  2. Cada personagem é um mundo novo, com tudo de bom e de ruim que tem direito, e até com vida própria às vezes. Doamos muito a cada personagem e eles também a nós, numa troca honesta, sincera… em momentos únicos, como os que formam a vida! Abraço, Álvaro, parabéns!

Deixe um comentário